A Ergoespirometria ou teste de esforço cardiopulmonar é uma metodologia não invasiva que mede a capacidade do corpo de realizar as trocas gasosas, dando uma avaliação objetiva da capacidade e ou/ limitação ao exercício físico.
Esta análise por sistemas computadorizados extremamente precisos e em tempo real, é realizada através do registro de importantes variáveis tanto metabólicas quanto respiratórias, tais como o consumo pico de oxigênio (VO2pico), em ml/kg-1.min-1 e em l/min,consumo máximo de oxigênio (VO2 máx.) em ml/kg-1.min-1e em l/min,dióxido de carbono (VCO2),em ml.min-1,ventilação pulmonar (VE),em l.min-1,freqüência respiratória (FR) em rpm, equivalente ventilatório de oxigênio (VE/VO2), equivalente ventilatório de dióxido de carbono (VE/VCO2), razão de troca respiratória entre a produção de dióxido de carbono e o consumo de oxigênio (VCO2/VO2), pressão parcial de oxigênio ao final da expiração (PetO2), em mmH.,pressão parcial de dióxido de carbono ao final da expiração (PetCO2), em mmHg, fração expirada de oxigênio (FEO2) em %, fração expirada de dióxido de carbono (FECO2) em % e razão entre o espaço morto funcional estimado e o volume corrente (Vd/Vt), enriquecendo sobremaneira e fornecendo uma compreensão mais ampla das respostas clínicas, eletrofisiológicas e hemodinâmicas indiretas proporcionadas pelo exercício físico progressivo e dinâmico, comparadas a ergometria convencional.
Esta metodologia também permite avaliar a dispnéia causada por problemas circulatórios ou ventilatórios, a capacidade física de indivíduos normais e de pacientes e estabelece de forma segura a orientação para a prescrição de exercício físico.
O consumo máximo de O2 é definido como a quantidade máxima de O2 que o organismo pode absorver da atmosfera para os alvéolos, transportando,liberando e utilizando o O2 nos tecidos. Ao mesmo tempo, ele representa o nível de atividade física do indivíduo, que representa a reserva máxima do sistema cardiovascular, Segundo Taylor o mesmo é atingido quando ao aumentar-se a inclinação da esteira em 2.5%, o consumo de O2permanece estável e/ou quando sua elevação é menor do que 150 ml O2/minuto. Ao atingir-se o VO2 máximo, a capacidade de transportar e utilizar o O2 através da oxidação celular, desde a atmosfera até os níveis teciduais e que compreende a produção energética dos compostos tri fosforados do ciclo de Krebs a nível mitocondrial, torna-se insuficiente para suprir o aumento da demanda energética imposta pelo exercício físico. No entanto, se o indivíduo testado não atinge o consumo máximo de oxigênio, o mesmo passa a ser considerado como o VO2 pico, definido como o consumo mais alto de oxigênio obtido pelo examinando durante o exame. Neste último caso, o término do exercício é devido a sintomas que não já não foram toleradas pelo indivíduo, tais como cansaço intenso em membros inferiores, dor muscular e/ou dispnéia.
O VO2 pico é a variável mais importante na avaliação da capacidade funcional de indivíduos normais e de atletas. Nos pacientes com insuficiência cardíaca (IC) seu valor prognóstico é indiscutível, sendo um preditor importante para eventos, tais como sobrevida e óbito. Além do mais fornece um dado importante na seleção de pacientes para transplante cardíaco e influenciando também a diminuição do custo do transplante, dado este muito importante na economia das verbas de saúde, principalmente naquelas dos países com menos recursos. Seu valor prognóstico torna-se maior, ao ajustar-se seu valor com a massa corporal magra, especialmente nas mulheres e nos pacientes obesos. Sabe-se hoje que não só o consumo máximo de oxigênio, mas a utilização de múltiplas variáveis pode predizer os eventos, sobrevida e número de internações nos pacientes com insuficiência cardíaca.
O aumento da ventilação depende do consumo de oxigênio e da produção do dióxido de carbono, aumentando de forma linear até o limiar anaeróbio. Esse limiar corresponde a 50% a 70% do VO2 máximo, e é definido como o nível de intensidade de trabalho em que a musculatura esquelética forma, através do metabolismo anaeróbio, uma maior quantidade de ácido lático, devido provavelmente ao resultado de recrutamento de fibras brancas. Dessa forma o sistema cardiovascular não consegue suprir de forma totalmente aeróbia a elevação das demandas de oxigênio dos tecidos. Ele pode ser também definido como o maior consumo de oxigênio que pode ser mantido durante o exercício prolongado sem o acúmulo de ácido lático, delimitando portanto, a transição entre um exercício moderado e exercício intenso. Nessa fase, os sintomas de dispnéia e fadiga muscular são perfeitamente tolerados
A Ergoespirometria também é uma metodologia importante na diferenciação da dispnéia de origem cardíaca e/ou pulmonar, principalmente naquelas em que há dissociação entre os sintomas de dispnéia e os resultados de provas de função pulmonar, ou mesmo naqueles casos em que as provas de função pulmonar de repouso não ajudam na elucidação da origem da dispnéia. Ela é também importante quando suspeita-se, que a dispnéia tem como origem fatores diversos, tais como psiquiátricos, sedentarismo físico ou mesmo falta de motivação do próprio paciente.
Desta forma ela parece discriminar melhor os pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica em relação a carga de trabalho, principalmente naqueles em que há predominância de obstrução leve ou moderada, revelada pela prova de função pulmonar.
Uma visão atual muito importante é a descoberta de pacientes com dispnéia não explicada, em pacientes com miopatia mitocondrial, nos quais seus sintomas estavam correlacionados a mialgia e fraqueza muscular e/ou dispnéia e o teste de esforço cardiopulmonar mostra resposta hipercirculatória visto pela elevação acentuada da freqüência cardíaca e de hiperventilação, caracterizada por um aumento importante dos equivalentes ventilatórios tanto de oxigênio como de gás carbônico. Estima-se também uma alta incidência dessa patologia, em torno de pelo menos 8.5% na população do centro da clínica de dispnéia da Universidade de Michigan.